sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Material hospitalar é despejado em avenida




Crianças brincavam de juntar comprimidos para levar para casa e de atirar frascos e ampolas em muros
RAFA ELEUTÉRIO


Dezenas de remédios, seringas e ampolas estavam jogadas ao redor de um contêiner; o caso será investigado

"É a farmácia do lixão". Com essa expressão, a dona de casa Maria Charliana dos Santos classificou a cena com que se deparou, no início da manhã de ontem, na Avenida Edilson Brasil Soares, no bairro Sapiranga. Ao redor de um contêiner de lixo, dezenas de medicamentos, ampolas, seringas e outros materiais hospitalares estavam no chão, à disposição de quem quisesse recolhê-los.

Chamando a atenção daqueles que passavam pelo contêiner, situado próximo à Rua Bill Cartaxo, os medicamentos - todos com o prazo de validade vencido - atraíam, principalmente, as crianças.

Um dos meninos, de oito anos, alegrava-se pela quantidade de seringas e comprimidos que conseguiu coletar e guardar em um balde que trouxera de casa. Além dele, duas outras crianças - uma delas descalça - brincavam com os produtos hospitalares despejados no chão.

Uma das brincadeiras, disse a dona de casa Nágela Souza, era atirar contra muros ampolas e outros materiais de vidro, que se estilhaçavam em seguida.

De acordo com a dona de casa Maria Cleomar Gomes, que mora a poucos metros do espaço onde o lixo foi atirado, os resíduos foram despejados no local por volta das 17h da última quarta-feira. Segundo ela, três homens não uniformizados estacionaram em frente ao contêiner em um veículo Pampa, de placa vermelha, e iniciaram o despejo. "Ninguém nem sabe quem são", disse Cleomar.

Punição

A diretora de fiscalização da Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização (Emlurb), Lúcia Coelho, afirmou que a empresa Ecofor retirou, ontem, o contêiner do local. Segundo ela, todos os produtores de resíduos sépticos têm de contratar empresas que façam o transporte adequado desse tipo de produto, o qual deve ser incinerado.

No caso de infrações como a de ontem, afirma Lúcia, é emitida uma notificação àquele que despejou o material. Dependendo da gravidade, pode ser aplicada uma multa diretamente contra o infrator. O despejo irregular é uma infração gravíssima, cuja multa é de R$ 2.668,37.

Conforme a Emlurb, essa foi a segunda vez em 2011 que foi constatado o despejo irregular desses produtos na Capital. A primeira vez foi também neste mês. O caso de ontem, informa, será averiguado e o proprietário do veículo poderá ser multado.

Revolta

Para a aposentada Maria Silva dos Santos, de 65 anos - uma das pessoas que se depararam com o material despejado - a indignação veio em dobro. Mais do que perigo para os netos, a situação significava uma contradição. A aposentada conta que já sofreu diversas vezes por conta da falta de remédio no posto de saúde Hélio Goes, também situado em Sapiranga.

A autônoma Liliane Félix apontou a ausência de remédios para febre e para verme de que o filho precisou no último mês.

De acordo com a diretora do centro de saúde, Néry Maia, a unidade disponibiliza medicamentos para diabetes, hipertensão, tuberculose, hanseníase, verminoses, além de antibióticos e remédios voltados para a saúde da mulher.

Eventualmente, reconhece, alguns medicamentos faltam no posto, quando a demanda é maior do que a quantidade que unidade havia solicitado à Célula de Assistência Farmacêutica (Celaf) do Município. Conforme a diretora, estão faltando, hoje, três medicamentos - catopril, proponol e metformina. Os dois primeiros são usados no tratamento para hipertensão e o terceiro, para diabetes.

FIQUE POR DENTRO

Incineração

Em Fortaleza, há apenas um incinerador que recebe resíduos de serviços de saúde - como medicamentos e objetos como seringas e agulhas. O equipamento, localizado no bairro Jangurussu, incinera uma média de 310 toneladas de materiais desse tipo por mês. Do total, informa o gerente da unidade de incineração da Ecofor, empresa responsável pelo serviço, Maurício Gomez, em torno de cinco toneladas correspondem a medicamentos vencidos. O preço médio cobrado para o serviço de incineração dos remédios vencidos corresponde a R$ 2,92 por quilo.

JOÃO MOURA
REPÓRTER


Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1032141 <acessando em 26/08/2011 às 07:50>

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